19nov

A minha causa é mais importante que a sua?

Postado por às em a vida como ela é, Feminismo
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Charlize Theron em cena do filme Terra Fria, de 2005

[Você pode ler esse texto ao som de Survivor cantada pela Clarice Falcão ♫]

Ontem li um texto que me deixou triste, ele falava sobre feminismo e diminuía o discurso de Clarice Falcão ao cantar sua versão de Survivor, num clipe lindo sobre feminismo. O texto trazia números de mortes de mulheres brancas versus mulheres negras e dizia que a branca da classe média ou alta não poderia gritar tão alto quanto a negra da classe média ou da periferia, pois elas nunca “passaram por isso”. Fiquei triste ao ler isso, pois tem um grupo de pessoas que querem diminuir o grito alheio, como o da Jout Jout, pois ela não faz parte da maioria, pois grito feminista dela não vem com a dor e o sofrimento, não tem a cor do grito da outra, pois o grito de “não tire o batom vermelho” dela é elitista. Fiquei triste.

Sou branco, tenho um bom emprego e consigo pagar meu aluguel num bairro legal de São Paulo, porém sou gay e passei mais de 25 anos da minha vida na periferia, sou de família pobre e sei que tenho tantos direitos quantos homens gays que nasceram e moram a vida toda no bairro dos jardins e nunca vou diminuir o grito deles, pelo contrário eu quero gritar junto, quero fazer com que esse grito ecoe ainda mais rápido, que seja mais visto, pois a causa que lutamos é uma só.

Eu me considero feminista, acho lindo a luta das mulheres por direitos iguais, por igualdade social, por um mundo sem medo de sair às ruas, por uma sociedade em que as respeite e não as diminua por nenhum motivo. Eu adoro tanto o movimento, que chego a me emocionar quando vejo que meninas de 17 anos estão fazendo revolução em suas escolas e trazendo pais e meninos para a causa, mas segundo esse texto que li ontem, eu não posso ser feminista, pois eu não “passei por isso”, não sofri discriminação por ser mulher, não sofri abusos. Segundo aquele texto, meu discurso seria vazio, seria menor.

Eu não costumo fazer discurso sobre feminismo, nem sobre o preconceito contra gays, mas eu participo de tudo que posso, inclusive já escrevi aqui no blog sobre a sociedade ainda não aceitar as diferenças, sobre essa vontade doida das pessoas de moldarem o outro a sua normalidade. O meu discurso é com amigos, com família, tentando mostrar à eles o tamanho da luta que está sendo travada todos os dias. Há alguns dias, briguei com um amigo que filmou (e postou em seu Snapchat) a bunda de uma moça na balada. Aquilo me deixou triste, achei uma grande falta de respeito com a moça, ela estava dançando na balada e não para um público x de pessoas na internet. É esse meu discurso, ele está no meu dia a dia, na minha vida e por ser homem e branco, ele não serve para algumas pessoas.

Dias atrás, eu li um post no Facebook do crítico Pablo Villaça, onde ele dizia que uma jovem moça se sentiu amedrontada em sua presença, enquanto buscava sua filha na escola. Nesse post, vi o comentário de um homem que dizia “sou alto e gordo, e me sinto muito triste quando mulheres, pelo meu porte físico, atravessam a rua”, abaixo desse comentário eu vi vários outros falando para esse homem que “o coitado aqui não é você”, “se coloque no seu lugar”, “você sofre preconceito por ser grande? Palhaçada!”, foram vários comentários gritando para o homem que a causa dele era menor, mas ele não foi gritar por uma causa, seu comentário só manifestava sua tristeza ao ver mulheres temerem sua presença e mesmo manifestando esse sentimento ele foi criticado.

Nesses vários anos de vida eu aprendi a respeitar todas as opiniões, até as contrárias e aprendi a ver o mundo com outros olhos. Eu acredito na mudança, acredito na força das pessoas, acredito nas causas que criam as mudanças, eu apoio as mulheres saírem às ruas pedindo a legalização da pílula do dia seguinte, a legalização do aborto. Acredito que com o nosso corpo nós devemos fazer o que quisermos, mas eu ainda acredito que temos que aceitar todo e qualquer apoio, o grito dos mais favorecidos não é menor que o nosso. A música da Clarice Falcão não é menor que uma cantada pela Petra Gil ou pela Negra Li, eu pelo menos penso assim. O vídeo da Jout Jout levou a ideia de feminismo à pessoas que ainda não entendiam a causa e isso vale muito a pena.

Eu acredito num mundo melhor onde todos se aceitem e se respeitem. Independente de raça, sexo, orientação sexual, independente se você é Clarice Falcão, Jout Jout, Negra Li, Racionais, Ivete Sangalo. Se você estiver fazendo algo que agrega na luta por direitos iguais, você tem o meu respeito, minhas palmas e meu grito estará contigo.

Vamos fazer um escândalo? Vamos sim!

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